No último dia 10 deste mês, representantes das Secretarias de Saúde do Estado e do Município e entidades de atendimento hospitalar, reuniram-se com a Diretoria do Círio de Nazaré, para prestar esclarecimentos à população, através de uma uma entrevista coletiva, dos possíveis riscos de contaminação pela Gripe H1N1, por conta da proximidade e realização do Círio de Nazaré, em outubro.
O Portal da Prefeitura de Belém noticiou que segundo Cezar Neves, um dos membros da Diretoria do Círio, "os riscos de se contrair o vírus H1N1 em eventos de grande concentração de pessoas, como festividades religiosas, não são maiores do que em dias comuns". Continua o Diretor dizendo que "As pessoas que apresentarem sintomas suspeitos devem ficar em casa, de repouso ou procurar um médico. Mas se todos agirem com prudência e responsabilidade, nada apagará o brilho da nossa festa, que é a maior manifestação religiosa do mundo”, afirma.
Antes dessa reunião (24/7), o Governo do Estado notificou um surto de Influenza A (H1N1) no Campus da Universidade Federal do Pará (UFPA), em decorrência da realização do Encontro Nacional dos Estudantes de Direito, um evento de proporções infinitamente menor do que o Círio de Nazaré, a maior festa religiosa do país, que se realiza no segundo domingo de outubro em Belém-PA e recebe milhões de visitantes nesse período.
Diz a notificação: "Diante de três casos confirmados e três casos suspeitos de influenza A ... a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), em reunião com a presença do reitor da UFPA, do diretor e da vice diretoria do Hospital Universitário João de Barros Barreto (HUJBB), decidiu sugerir a antecipação do encerramento das atividades referentes ao evento e o retorno dos participantes aos seus locais de origem, com o objetivo de evitar aglomerações e surgimento de novos casos".
Em 17/08 a Sespa divulga nota técnica sobre a ocorrência do primeiro óbto no Pará, em função da doença.
O Boletim epidemiológico do Ministério da Saúde divulgou, no último dia 26/8, a ocorrência de 557 mortos no Brasil, predominantemente nos estados de São Paulo (223), Paraná (151), Rio Grande do Sul (98) e Rio de Janeiro (55).
Menosprezar que muitos dos turistas recebidos pela cidade de Belém, para participação deste Círio, são provenientes desses estados, que apresentam maior incidência de casos de influenza A (vide quadro abaixo), é, no mínimo, um ato de negligência à possibilidade de um surto, no período mais movimentado e de maior aglutinação de pessoas, no Círio de Nazaré.
Tabela 1 - Distribuição de casos notificados e confirmados de síndrome respiratória aguda grave (SRAG), segundo confirmação laboratorial para vírus Influenza, por unidade federada. Brasil, até SE* 33/2009:
TOTAL SRAG NOTIFICADOS (inclusos suspeitos e descartados) | |||||||||
UF | Novo A(H1N1) | Sazonal | TOTAL (H1N1+SAZ) | ||||||
casos | % | casos | % | casos | % | casos | % | ||
PR | 1.444 | 12,2 | 181 | 1,5 | 1.625 | 13,8 | 11.802 | 100 | |
SP | 2.482 | 27,3 | 474 | 5,2 | 2.956 | 32,5 | 9.087 | 100 | |
RJ | 316 | 11,2 | 46 | 1,6 | 362 | 12,8 | 2.821 | 100 | |
RS | 461 | 16,4 | 55 | 2,0 | 516 | 18,4 | 2.807 | 100 | |
SC | 114 | 5,6 | 44 | 2,2 | 158 | 7,8 | 2.019 | 100 | |
MG | 67 | 12,2 | 21 | 3,8 | 88 | 16,1 | 547 | 100 | |
DF | 78 | 24,6 | 5 | 1,6 | 83 | 26,2 | 317 | 100 | |
PA | 69 | 31,8 | 20 | 9,2 | 89 | 41 | 217 | 100 | |
BA | 17 | 9 | | 2,1 | 21 | 11,2 | 188 | 100 | |
OUTROS | 158 | | 48 | | 202 | | 1.049 | 100 | |
TOTAL | 5.206 | 16,9 | 894 | 2,9 | 6.100 | 19,8 | 30.854 | 100 | |
* SE - Semana Epidemiológica | | | | | |
Fonte: Sinan/ SVS
Portanto, é melhor que as autoridades competêntes tomem as devidas providências, para que o "brilho da nossa festa", como diz Cezar Neves, realmente não venha a se transformar num motivo de preocupações para os abrilhantadores dela.
Há enorme probabilidade desses números não refletirem a realidade. Sei de casos em que os pacientes com suspeita da gripe tentaram fazer o exame e não conseguiram, mesmo após percorrerem pelo Hospital Barros Barreto, Postos de Saúde, e até no próprio Instituto Evandro Chagas. A resposta quase sempre era a mesma: não há material. Nos postos de saúde, sequer havia médico para poder fazer o encaminhamento. Portanto, esperar que as autoridades ditas competentes façam alguma coisa vai ficar para segundo plano. O melhor é orar para nossa mãezinha para proteger-nos.
ResponderExcluirAbs