sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Tudo como dantes, no quartel de Abrantes


Abrantes é uma região em Portugal, de localização estratégica. Foi cobiçada pelas tropas francesas de Napoleão, para centralizar ali o seu quartel general e, dali, conquistar o resto do país, com um exercito totalmente “depauperado” pela fome e pelo rigor do clima, enquanto o regente D. João, de Portugal, e sua corte, numa estratégia tecida secretamente com os ingleses, embarcavam para o Brasil, deixando seu povo à mercê dos franceses. A reação popular se alastrava, com apoio dos ingleses, mas no quartel de Abrantes, tudo estava como dantes, na mão dos militares franceses. Daí o dito popular (tudo como dantes no quartel de Abrantes) como o significado de inoperância e inconformismo.

Se transportarmos essa história para os dias de hoje, vamos encontrar situações muito semelhantes em relação à crise instalada no Senado e seus vizinhos políticos. As reações fora daquela região política são inquestionáveis. Entretanto, no quartel de Abrantes, as coisas permanecem exatamente como sempre foram!

Não é mesmo Senador Aloísio Mercadante!

Crime perfeito

Segurança da Presidência diz não poder fornecer imagens pedidas pela Câmara .Imagens de segurança do Palácio são apagadas após cerca de 30 dias. Câmara quer imagens para verificar se Lina teve reunião com Dilma.

De Jeferson Ribeiro, do G1:

O Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República divulgou nota nesta sexta-feira (21) informando que não há como fornecer imagens do circuito interno de vídeo do Palácio do Planalto para checar se a ex-secretária da Receita Federal, Lina Vieira, esteve no prédio em dezembro passado para uma audiência com a ministra chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.

O pedido de acesso às imagens foi encaminhado ao GSI nesta quinta-feira (20) pelo presidente da Câmara, deputado Michel Temer (PMDB-SP), atendendo a pedido do líder do Democratas, deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO). O deputado quer ter acesso a vídeos do circuito interno, registro de carros que estiveram no local e cópia da agenda de compromissos da ministra nos meses de novembro e dezembro do ano passado.

O objetivo é provar que a ex-secretária da Receita fala a verdade quando diz que esteve no gabinete da ministra no final do ano passado em uma reunião em que, segundo Lina, Dilma pediu para que ela “agilizasse” a investigação sobre empresas da família Sarney. A ministra nega que o encontro tenha ocorrido. Lina reafirmou em depoimento no Senado na última terça-feira (18) que esteve com a ministra,

Segundo o GSI, pelo contrato de segurança assinado em 2004, o período médio de armazenamento das imagens registradas no Palácio do Planalto é de 30 dias. Segundo a nota, as câmeras são acionadas por sensores de movimento. Quando a capacidade de armazenamento do HD (disco rígido) se esgota, novas imagens substituem as antigas.

“Desse modo, não mais existem as imagens relativas aos meses de novembro de dezembro de 2008”, diz o GSI. Segundo o GSI, também não há registros de entrada de veículos que transportam autoridades que entram pela garagem do Palácio do Planalto. “Com relação ao ingresso de veículos, após reconhecidos, [eles] não têm suas placas anotadas”, diz a nota do governo.

O GSI informa também que não são feitos registros de autoridades que chegam pela garagem do Palácio Planalto. O governo explica que no caso “das pessoas com audiências previamente agendadas, os convidados são identificados e credenciados”. Mas não são registrados em nenhum livro ou planilha de computador.

“No caso de audiências sem agendamento prévio, feita a identificação dos convidados, os gabinetes das autoridades são consultados, oportunidade em que, após credenciamento, é autorizado seu ingresso”, diz a nota do GSI. Também nesses casos, não ficam registrados os dados dos visitantes.

Portanto, segundo a nota, mesmo que a secretária esteja falando a verdade, não é possível atestar isso por meio dos registros feito nos visitantes do Palácio do Planalto que entram pela garagem.

“Nos registros existentes, correspondentes aos meses de novembro e dezembro de 2008, não foi encontrado o nome da ex-secretária da Receita Federal, Lina Maria Vieira”, conclui a nota. Segundo a assessoria de imprensa do GSI, o costume é fazer os registros apenas de pessoas que acompanham os convidados, mas que não participam diretamente da audiência.

Fonte: blog de Ricardo Noblat

A dignidade profissional é que conta

Ana Diniz, jornalista da universidade de Cláudio de Sá Leal, nosso saudoso mestre, não se conforma que coleguinhas percam o bonde dos fatos.

E muitas vezes, perder o bonde dos fatos significa perder o bonde da História, perder o vagão no qual o jornalismo se pendura para redigir a crônica dos tempos.
É o caso de coleguinhas superapressados, com pautas mil para cumprir, que vão para uma delegacia de polícia onde um figurão está depondo e, quando menos se espera, viram as costas para voltar à redação ou seguir adiante.
E fazem isso, os coleguinhas, sem considerarem a possibilidade de que o momento em que estão saindo dali, para cumprir a outra pauta – ou por preguiça mesmo, ou por falta de faro mesmo -, é justamente o momento em que deveriam ficar, porque dali é que sairá a notícia que pode até ganhar a manchete do outro dia.
A propósito, leiam essa história que a Ana conta:

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No tempo da ditadura, eu era repórter da Província e fui cobrir a inauguração do porto de Itaqui pelo Medici (Jurássico, né?) O Carlos Weick era o fotógrafo, pela "Manchete". Os jornais estavam censurados, era o auge da repressão, mas as ordens do Sá Leal eram duras também: faz o serviço; se publica ou não, é outra história. Botaram a gente num chiqueirinho (como no filme Heroe, nós não podíamos chegar a menos de cem passos do ditador de plantão).
Bem, eu e o Weick fizemos o nosso serviço. Voltamos com os braços roxos: os seguranças nos pegavam no beliscão e nos arrrastavam de volta. Mas pegamos a notícia mais importante: o porto de Itaqui foi inaugurado sem o pontilhão, de forma que os graneleiros não podiam atracar; botaram um navio meio encalhado, lá, para fazer a imagem de funcionamento. Era uma fraude. Fosse hoje, seria um escândalo. Weick fotografou, eu fiz a notícia. Nada foi publicado, mas toda a Imprensa do Brasil soube, e isso era muito importante para que a gente pudesse resistir à lavagem cerebral daquela época.
Sabes, a dignidade profissional é importante. Com ditadores, juízes ou polícia federal, é preciso encarar "o arbítrio e a prepotência", como costumava dizer Brizola.

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Ah, tem um detalhe que a Ana não esquece – e nem poderia.
O Sarney – vocês conhecem? - também estava lá, coladinho no presidente Médici.
Oh, tempora...

Fonte: Espaço Aberto